segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Uma ‘Bagaceira’ que deu certo: o empresário que já foi camelô fala do seu bloco micarentesco

Mesmo sendo hoje proprietário de oito lojas e duas fábricas no ramo de confecção, de vez em quando Orlando Bagaceira ainda trabalha como camelô na cidade de Entre Rios (BA), a 128 km de Salvador, tendo isso como terapia, pois afirma que é "por amor, por prazer pelo que faz". Pelo mesmo motivo, ele próprio faz também locução para convidar os transeuntes a
visitarem suas lojas.

Sergipano da cidade de Nossa Senhora da Glória, Orlando da Silva Dantas, ou "Orlando Bagaceira", como é bem mais conhecido, começou a trabalhar como camelô, se aventurando de cidade em cidade para vender confecções, por volta de 1990.


Antes disso, Orlando já trabalhou em outros ramos: ainda aos 12 anos de idade, como garçom de bar; dois anos depois conseguiu um emprego na rede de supermercados G Barbosa, como ajudante geral; aos 15 tornou-se office-boy do Banco do Brasil, onde trabalhou por cerca de quatro anos; depois se tornou auxiliar de topografia. Com apenas 20 anos de idade, montou seu próprio restaurante. Mas, como possuía um desejo antigo de trabalhar como camelô, saiu pelo Brasil a fora, especialmente por Minas Gerais, Goiás e Bahia, com um Opala carregado de confecções e uma barraca de feira.


Com o tempo e o sucesso de suas vendas, ele desistiu do restaurante, adquiriu barracas (de 12X2m a 15X2m), caminhões e caminhonetes, e contratou funcionários, chegando a ter cinco veículos, cada um com três a quatro pessoas e uma barraca, viajando e vendendo suas mercadorias. Como seus produtos eram de baixo custo, Orlando afirma que não era necessário passar mais que um dia em cada cidade.


Por que Bagaceira?


Há 15 anos, Orlando abriu sua primeira loja (de retalhos, onde também funcionava uma fábrica de roupas) em Santa Cruz do Capibaripe, Pernambuco - terra da confecção -, chamada Shopping da Bagaceira, mesmo nome que está gravado no baú do caminhão que conduzia, ao lado de sua esposa e alguns empregados.


Indústria e comércio


Quatro anos depois ele inaugurou uma pequena loja na praça da feira livre, em Rio Real (BA), a 202 km da capital, com o mesmo nome da pernambucana, só que funcionando apenas aos sábados, assim como a feira, já que considera suficiente, devido ao preço baixo da mercadoria.


Durante suas viagens, algumas prefeituras proibiram as barracas de fora nas cidades. Como consequência, Bagaceira "uniu o útil ao agradável": procurou pontos fixos para fundar mais uma loja em Rio Real e dar início, na Bahia, ao grupo Lojão São Sebastião, sendo uma loja em Camaçari, uma loja na capital Salvador, duas em Dias D' Ávila e uma em Pojuca.


Na indústria de confecções, o empresário atua com uma fábrica em Rio Real e outra na cidade de Santa Cruz do Capibaripe (PE). Além disso, ele pretende, ainda em 2011, realizar um projeto social através de uma escola profissionalizante, em seu ramo de atuação, para adolescentes que tenham entre 12 a 15 anos: "vou lutar muito para que isso aconteça" diz ele, pois sente a falta de mão de obra para esta área.


Bloco


Na última micareta de Rio Real, que aconteceu em novembro do ano passado, Orlando Bagaceira lançou o Bloco B e A, que arrastou, segundo ele, dois mil foliões, embalados ao som enérgico de Chicana no sábado (13), A Bronca no domingo (14) e Tomate, na segunda-feira (15).


No entanto, houve dificuldades na saída do bloco e por pouco não foi devolvido o dinheiro dos foliões, mas, "apesar de muitos problemas deu tudo certo, (...) com muita força de vontade, com muita luta", afirma Orlando. Conforme ele, uma conspiração de pessoas do Bloco Me Leva - que considerava que a festa era propriedade sua e não da cidade - tentou, já em cima da hora, impedir que o bloco desfilasse, a ponto de recorrer à justiça para barrá-lo.


O empresário afirma que, a cerca de dez anos atrás, ele próprio idealizou a micareta de Rio Real, e que transmitiu sua idéia ao produtor de eventos e proprietário do Bloco Me Leva (cujo nome prefere não mencionar), que se dizia seu amigo. No entanto, ele barrou a participação de Orlando, com a estranha alegação de que a Prefeitura, na época, não permitia mais uma pessoa na organização do evento.


Há uma possibilidade do empresário ingressar em uma candidatura nas próximas eleições, mas nada está definido."Se tivesse de tomar uma decisão para ajudar o grupo que me socorreu, sim", diz ele referindo-se àquele que está na situação atual da política local.


Ao ser questionado em relação à sua popularidade na região de Rio Real, o Orlando preferiu ser modesto, alegando que o povo é que tem de julgá-lo, e não ele mesmo. Mas depois acabou assumindo, orgulhoso, que "o povo de Rio Real gosta de Bagaceira e que Bagaceira ama o povo de Rio Real".

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